Em evento da Câmara Britânica, Arthur Dalmarco, Chief Legal Officer da Enter, destacou a importância da análise regulatória baseada em dados para tomada de decisão precisa
São Paulo, 29 de julho – A regulação da Inteligência Artificial generativa no Brasil depende de maturidade de análise com base em dados transparentes. Essa é a visão apresentada por Arthur Dalmarco, Chief Legal Officer da Enter, durante debate realizado nesta terça-feira (29) na sede da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham), em São Paulo.
O evento realizado pelos comitês Legal, Tributário & Regulatório e de Tecnologia & Inovação da instituição, com mediação de Isabela Campos Vidigal, sócia da área de Contencioso do escritório Mattos Filho, contou com a participação de empresários e executivos de diversos setores da sociedade. Anderson Jardim D’Avila, vice-presidente do Comitê Legal, Tributário & Regulatório da Britcham, liderou a discussão.
De acordo com Arthur Dalmarco, o Brasil ainda não tem base técnica, dados e estrutura regulatória suficientes para avançar com uma legislação robusta e abrangente sobre o uso da IA generativa em ambiente corporativo. “A gente não deveria ser proativo na regulação do tema, porque não temos clareza suficiente para regular de forma mais abrangente, sem deprimir a competitividade que eventualmente a não regulação poderia gerar em mercados que a gente simplesmente não prevê”, afirmou.
A ponderação de Dalmarco, no entanto, não descarta completamente a necessidade de regulação. “Não vale a pena já olhar proativamente para uma regulação abrangente da IA generativa. Quer dizer que a gente nunca deve olhar para isso? Não. Mas eventualmente a gente vai estar numa condição melhor até para olhar para isso de uma forma baseada em mais dados, com mais insumos para a gente tomar uma decisão mais precisa.”
Durante sua análise, o executivo destacou o descompasso entre empresas mais sofisticadas que já contam com redes de dados estruturadas e estratégias definidas e organizações que estão apenas iniciando sua jornada digital. “Se a gente fosse colocar nossos clientes em um gradiente, temos de um lado empresas altamente organizadas internamente, com governança de dados estabelecida. Na outra ponta, temos empresas que, muitas vezes por necessidade, ainda lidam com esses temas de forma contingencial, sem uma visão de longo prazo”, explicou.
Essa diferença estrutural impacta diretamente na complexidade de implementação de projetos envolvendo a Inteligência Artificial generativa. Dalmarco exemplificou com a própria experiência interna enquanto gestor na Enter. “As horas que o nosso time precisa dedicar a projetos são muito menores quando o cliente já fez o dever de casa. Quando não fez, o esforço é significativamente maior.”
Outro ponto sensível abordado foi o alinhamento com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD). As empresas, segundo Dalmarco, ainda estudam como mapear fluxos de dados de maneira compatível com as exigências legais. Apesar dos desafios, o executivo reconhece que a IA já está acelerando o ritmo de inovação nas empresas.
“Existem algumas certezas que já conseguimos enxergar no mercado, como o uso da IA para aumentar a velocidade das inovações. Isso também nos leva a questionar o papel da revisão humana, uma vez que múltiplas camadas de agentes artificiais começam a interagir entre si para chegar a um resultado final”, avaliou.
Isabela Campos Vidigal, responsável por conduzir o debate, lembrou que a Inteligência Artificial já está integrada ao cotidiano da população, mesmo que nem sempre de forma visível. “Ela está presente nas ferramentas de busca que usamos todos os dias, e também em setores industriais estratégicos, como mineração”.
O debate reforçou que, embora a aplicação da Inteligência Artificial esteja se expandindo em ritmo acelerado, sua regulamentação precisa caminhar com responsabilidade e conexão com a realidade das empresas brasileiras, especialmente em um país com contrastes na maturidade digital.