Desafios tributários, gargalos logísticos e acesso restrito a tecnologias atrasam avanço do setor, aponta Rodolfo Galvani em webinar promovido pela Britcham
São Paulo, 13 de agosto – “A dependência externa do Brasil em fertilizantes não é só elevada, é concentrada e arriscada.” A análise de Rodolfo Galvani, presidente do Conselho de Administração da Galvani Fertilizantes e especialista do setor, sinaliza preocupação com a estrutura do ecossistema nacional de suprimentos diante das pressões geopolíticas globais.
O tema foi debatido no webinar “O Mercado Brasileiro de Fertilizantes”, promovido pelo Comitê de Agronegócios e pelo Comitê de Mineração da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham). A conversa teve a abertura de Adam Patterson, diretor-adjunto da Britcham Paraná, e contou com a moderação de Adriano Trindade, presidente do Comitê de Mineração, e Giovana Araújo, vice-presidente do Comitê de Agronegócios.
Galvani abriu o painel destacando que o Brasil, quarto maior produtor agrícola do mundo, importa mais de 90% dos fertilizantes que consome. O especialista destacou que 91% do nitrogênio, 85% do fósforo e 97% do potássio vêm do exterior e, em sua maioria, de poucos países, como Rússia, China, Marrocos e Canadá. “Essa concentração torna o país ainda mais vulnerável a flutuações políticas e econômicas”, alertou.
A instabilidade no abastecimento se intensificou em meio a guerra na Ucrânia e mais recentemente com a imposição de novas tarifas comerciais pelos Estados Unidos ao Brasil. “Há uma sensação de insegurança recorrente no acesso a insumos estratégicos. E isso tem impacto direto no agronegócio brasileiro, inclusive na distribuição interna, altamente dependente da infraestrutura rodoviária e portuária”, completou o executivo.
Além da dependência externa, Rodolfo Galvani pontuou o que considera gargalos logísticos severos, utilizando como exemplo a situação de navios carregados com fertilizantes que podem levar até 60 dias para serem descarregados nos portos do país. “Após a espera, a carga ainda percorre longas distâncias rumo ao interior do país, onde está concentrada a produção agrícola, especialmente no Cerrado. Esse modelo encarece o insumo e compromete a eficiência de todo o sistema”, afirmou.
A ausência de uma malha ferroviária estruturada também pesa. Segundo Galvani, ferrovias poderiam reduzir custos logísticos de forma significativa, mas ainda representam uma fração pequena no transporte de fertilizantes. Somam-se a isso os elevados custos financeiros e tributários, que inibem investimentos em produção nacional de nutrientes como o potássio, cuja exploração demanda aportes intensivos e de longo prazo.
Apesar dos entraves, o setor vê com otimismo o avanço de novas tecnologias, especialmente no campo da substituição parcial de nitrogenados por fixadores biológicos, e em métodos mais sustentáveis de produção. Para Galvani, o fomento à inovação pode abrir caminho para um novo ciclo de autonomia. “Temos potencial para reduzir nossa dependência, com tecnologias adaptadas à realidade climática e econômica do Brasil”, destacou.
Outro ponto citado foi a relevância do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), criado para coordenar ações de longo prazo e incentivar a exploração de jazidas, investimentos em infraestrutura e modernização tecnológica. Na visão de Galvani, embora o plano seja um avanço, ele ainda precisa de melhor articulação interministerial, incentivos mais claros e segurança regulatória para realmente destravar o setor.
A consequência prática de todos esses desafios, de acordo com o presidente do Conselho de Administração da Galvani Fertilizantes, é sentida diretamente pelo produtor rural, que enfrenta dificuldade para incorporar inovações em novos produtos e segue dependente de soluções caras e pouco previsíveis. Galvani concluiu destacando a urgência de se olhar para toda a cadeia com uma visão integrada e de longo prazo. “O agronegócio brasileiro tem força e resiliência, mas precisa de um ambiente mais favorável para competir de igual para igual no cenário global”.
O evento reforça o compromisso da Britcham com temas estratégicos para o desenvolvimento do agronegócio nacional e a promoção de debates qualificados sobre os desafios da segurança alimentar e da soberania produtiva do Brasil. O calendário completo de atividades da instituição está disponível aqui.
Sobre a Britcham
Há mais de 100 anos no Brasil, a Britcham atua como principal promotora das relações econômicas e comerciais entre Brasil e Reino Unido, fomentando o diálogo bilateral por meio de iniciativas estratégicas. Presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, a instituição mantém conexões diretas com entidades governamentais e privadas, organizando missões comerciais nacionais e internacionais, rodadas de negócios e projetos especiais para integração econômica.
Com 13 comitês temáticos que abrangem os principais setores da economia, como comércio exterior, agronegócios, finanças, tecnologia e sustentabilidade, a Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil facilita discussões setoriais, advocacy e a troca de conhecimento entre associados, executivos e autoridades. Além disso, a Britcham oferece uma agenda diversificada de eventos exclusivos, desde oportunidades de networking até debates sobre tendências globais, fortalecendo conexões qualificadas entre os dois mercados. Destaque ainda para o Clube de Negócios Britânicos no Brasil (GBBC) e o Grupo de Suporte aos Negócios, plataformas essenciais para impulsionar parcerias e investimentos bilaterais. Com uma rede que inclui desde multinacionais até PMEs, a Britcham proporciona agregação de valor institucional e comercial por meio de grupos setoriais, posicionamentos técnicos e acesso a informações privilegiadas, consolidando-se como referência em cooperação empresarial e inovação entre Brasil e Reino Unido.