Capacidade de navegar entre dados e intuições, somada à diversidade de pensamento nas equipes, diferencia empresas que evoluem das que ficam para trás
São Paulo, 06 de agosto – “As empresas sabem que o mundo está mudando. Sabem o que fazer para se adaptar. Mesmo assim, não fazem”. A provocação do professor Jorge Carneiro, da FGV EAESP, escancara um paradoxo corporativo comum: o bloqueio entre saber e agir. A dificuldade em executar mudanças estratégicas, mesmo com o diagnóstico correto em mãos, revela que a sobrevivência empresarial depende não apenas de lógica e planejamento, mas da capacidade de tomar decisões que combinam razão, emoção e sensibilidade ao contexto de cada cenário.
O debate foi tema do evento “Dilemas Estratégicos: por que algumas empresas se adaptam e outras estagnam?”, promovido pela Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham). Especialistas em gestão e comportamento organizacional discutiram as barreiras e oportunidades para liderar em contextos de alta volatilidade, e o papel crucial da cultura organizacional nesse processo.
Na visão de Daniela Bauab, presidente do Comitê de Capital Humano & Educação da Britcham e moderadora do painel, há um desafio estrutural que atravessa diferentes tipos de empresas. “Mesmo startups, que nascem horizontais, acabam se tornando hierarquizadas com o tempo. E isso reativa disputas de poder, egos e uma tomada de decisão muitas vezes centralizada. Ainda falta conscientização sobre o papel das lideranças e o impacto que elas têm na dinâmica de mudança”, destacou.
Luis Perini, senior director da Máquinas e Soluções, reforçou que a eficácia estratégica depende diretamente da leitura emocional do ambiente. “A estratégia não é totalmente analítica, não é totalmente lógica. É extremamente emocional”, afirmou. Para ele, todo movimento de transformação exige articulação pessoal, alianças internas e inteligência política. “Os executivos se perguntam: quem ganha ou perde com essa mudança? Sem reconhecer essas agendas, os planos travam na execução”, explicou.
Segundo Perini, a resistência à mudança costuma se manifestar sutilmente: “Apresenta-se o plano, todos elogiam. Mas, na prática, começa o boicote silencioso. Partes não avançam, gargalos aparecem. Enquanto isso, um competidor menor, mais ágil e sem vícios, avança”, pontuou.
O professor Jorge Carneiro completou a análise ao destacar que muitas das estratégias bem-sucedidas emergem de forma não planejada, a partir da base da organização. “O comercial encontra um perfil de cliente que não estava no plano. A produção descobre um novo processo. Mas por que isso não sobe? Porque muitas vezes a cultura não valoriza o que não foi planejado no topo. A estratégia deveria ser uma trilha, e não um trilho. A trilha dá direção, mas permite ajustes”, defendeu.
Na dimensão global, Umesh Mukhi, professor do Departamento de Administração da FGV, propôs um olhar cultural sobre os modelos de liderança. Em países como Japão, Coreia do Sul ou Índia, há maior aceitação da autoridade decisória, porque o líder exerce também um papel protetor. “Essa liderança paternalista gera segurança para que decisões difíceis sejam tomadas. E segurança é um fator cultural essencial”, explicou.
Umesh ressaltou ainda o conceito de “terceira cultura” como diferencial para equipes de alta performance. “Quando uma equipe é formada por pessoas com diferentes nacionalidades, vivências e visões de mundo, ela cria uma nova cultura compartilhada. É isso que permite que times dentro da mesma empresa tenham desempenhos tão diferentes”, afirmou. A diversidade de pensamento, segundo ele, é chave para navegar incertezas e construir respostas mais completas aos desafios de mercado.
O evento faz parte do calendário oficial da Britcham, e todos os encontros promovidos pela instituição estão disponíveis aqui.
Sobre a Britcham
Há mais de 100 anos no Brasil, a Britcham atua como principal promotora das relações econômicas e comerciais entre Brasil e Reino Unido, fomentando o diálogo bilateral por meio de iniciativas estratégicas. Presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, a instituição mantém conexões diretas com entidades governamentais e privadas, organizando missões comerciais nacionais e internacionais, rodadas de negócios e projetos especiais para integração econômica.
Com 13 comitês temáticos que abrangem os principais setores da economia, como comércio exterior, agronegócios, finanças, tecnologia e sustentabilidade, a Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil facilita discussões setoriais, advocacy e a troca de conhecimento entre associados, executivos e autoridades. Além disso, a Britcham oferece uma agenda diversificada de eventos exclusivos, desde oportunidades de networking até debates sobre tendências globais, fortalecendo conexões qualificadas entre os dois mercados. Destaque ainda para o Clube de Negócios Britânicos no Brasil (GBBC) e o Grupo de Suporte aos Negócios, plataformas essenciais para impulsionar parcerias e investimentos bilaterais.
Com uma rede que inclui desde multinacionais até PMEs, a Britcham proporciona agregação de valor institucional e comercial por meio de grupos setoriais, posicionamentos técnicos e acesso a informações privilegiadas, consolidando-se como referência em cooperação empresarial e inovação entre Brasil e Reino Unido.