São Paulo, 2 de setembro – O uso de drones por facções criminosas no Brasil já é uma realidade e representa uma ameaça em constante evolução. O alerta foi feito por especialistas em segurança pública que apresentaram os desafios, soluções e perspectivas durante evento promovido pelo Comitê de Defesa & Segurança da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham) nessa terça-feira (2). A integração entre forças de segurança, o investimento contínuo em tecnologia e novas formas de atuação para conter os riscos são considerados como pilares para a defesa nacional neste cenário.
Segundo Bruno Carcará, auditor da Receita Federal e referência nacional no estudo e uso de drones na área de segurança, a guerra entre Rússia e Ucrânia se tornou um “laboratório aberto” que acelerou o desenvolvimento desses equipamentos, tornando-os mais baratos e acessíveis. Bruno alertou que modelos avançados, como drones kamikazes e conectados por fibra óptica, já estão disponíveis na internet a preços baixos. “O crime organizado observa tudo o que acontece em conflitos internacionais e replica aqui dentro. No Brasil, a situação é ainda mais complexa, pelo fato de facções controlarem territórios onde a presença do Estado é limitada. A barreira de entrada despencou, e hoje qualquer pessoa pode comprar kits prontos com autonomia estendida e tecnologias difíceis de detectar”, afirmou.
O especialista explicou que os sistemas tradicionais de detecção, baseados em radiofrequência, já não são suficientes. “Drones que voam de forma autônoma ou conectados por fibra ótica escapam dos sensores mais comuns. Radares têm dificuldade em detectar objetos pequenos voando baixo e devagar, e sistemas acústicos não funcionam bem em ambientes urbanos, onde o ruído interfere. O antidrone não pode ser apenas um produto, ele deve ser pensado como um sistema em camadas, que combine múltiplos sensores e integração com inteligência policial. A prevenção é a arma mais eficiente. Precisamos investigar quem está comprando esses kits e agir antes que sejam usados em ataques”, ressaltou.
O agente da Polícia Federal Daniel Esteves Kim, especialista em operações antidrones e responsável pela coordenação de contramedidas em eventos de alto risco, como a cúpula dos BRICS, reforçou a necessidade de integração entre as forças de segurança. “Não existe uma solução única que resolva todos os problemas. É preciso combinar tecnologias diferentes e aumentar o efetivo humano. Em eventos como a reunião do BRICS no Brasil e, futuramente, a COP30 no Pará, teremos centros integrados de monitoramento antidrones, reunindo Polícia Federal, Forças Armadas, polícias estaduais e órgãos reguladores. Esse trabalho conjunto é fundamental para proteger autoridades e a população”, disse.
Kim também destacou que o investimento não deve se limitar à compra de equipamentos e precisa levar em consideração a qualificação dos profissionais que vão operar o sistema. “Equipamentos de última geração só são eficazes se houver equipes treinadas para operá-los. A capacitação é essencial para acompanhar a evolução rápida dos drones e responder a incidentes com eficiência”, pontuou.
Para Cláudio Nascimento, gerente comercial da Atech, empresa do Grupo Embraer, o desafio tecnológico passa pela criação de sistemas que integrem diferentes tipos de sensores, como radares, câmeras, detectores acústicos e inteligência artificial. “Não existe um sensor capaz de resolver todas as situações. A solução precisa ser multi-sensor, com dados integrados em uma plataforma de comando e controle que permita coordenar as ações em campo. O sensor sozinho só traz a informação, o importante é o que fazer com ela”, explicou.
Cláudio ponderou sobre os limites éticos no uso dessas tecnologias. “A mitigação só pode ser feita por forças militares ou policiais autorizadas. É preciso ter controle rigoroso sobre quem utiliza essas ferramentas, para evitar abusos e violações de privacidade”, afirmou.
Os especialistas foram unânimes ao apontar que os ataques com drones são um caminho sem volta e que a melhor forma de enfrentar essa ameaça é por meio de integração entre forças, prevenção e investimento contínuo em tecnologia nacional. O moderador do encontro, José Augusto Leal, presidente do Comitê de Defesa & Segurança da Britcham, disse que o combate ao uso criminoso de drones deve ser baseado em inteligência, não apenas em força. “Quando falamos em segurança, a informação é a principal arma. O combate não pode ser apenas físico, ele precisa ser estratégico, antecipando movimentos das facções”.
A abertura do evento foi realizada por Nicholas Burridge, presidente da Britcham no Rio de Janeiro, que ressaltou a missão da entidade de promover negócios bilaterais e contribuir para o desenvolvimento de ambientes empresariais e sociais sustentáveis. O evento faz parte do calendário oficial da Britcham, e todos os encontros promovidos pela instituição estão disponíveis aqui.
Sobre a Britcham
Há mais de 100 anos no Brasil, a Britcham atua como principal promotora das relações econômicas e comerciais entre Brasil e Reino Unido, fomentando o diálogo bilateral por meio de iniciativas estratégicas. Presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, a instituição mantém conexões diretas com entidades governamentais e privadas, organizando missões comerciais nacionais e internacionais, rodadas de negócios e projetos especiais para integração econômica. Com 13 comitês temáticos que abrangem os principais setores da economia, como comércio exterior, agronegócios, finanças, tecnologia e sustentabilidade, a Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil facilita discussões setoriais, advocacy e a troca de conhecimento entre associados, executivos e autoridades. Além disso, a Britcham oferece uma agenda diversificada de eventos exclusivos, desde oportunidades de networking até debates sobre tendências globais, fortalecendo conexões qualificadas entre os dois mercados. Destaque ainda para o Clube de Negócios Britânicos no Brasil (GBBC) e o Grupo de Suporte aos Negócios, plataformas essenciais para impulsionar parcerias e investimentos bilaterais. Com uma rede que inclui desde multinacionais até PMEs, a Britcham proporciona agregação de valor institucional e comercial por meio de grupos setoriais, posicionamentos técnicos e acesso a informações privilegiadas, consolidando-se como referência em cooperação empresarial e inovação entre Brasil e Reino Unido.