São Paulo, 10 de setembro – Os afastamentos do trabalho por problemas de saúde mental custam R$3 bilhões por ano ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O dado foi apresentado por Cristian Parada, sócio da Wengamen América Latina, durante o webinar “Saúde Mental e o Impacto da NR-1 nas organizações”, realizado pela Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham).
Segundo Parada, a estimativa foi calculada a partir do número de licenças concedidas em 2024 por transtornos mentais e comportamentais, como ansiedade e depressão, considerando salários mínimos e benefícios acima do piso. O levantamento mostra que os afastamentos saltaram de 170,8 mil casos em 2015 para 474,3 mil em 2024, alta de quase 178% em dez anos.
Dados do Ministério da Previdência Social confirmam a tendência de crescimento. Em 2024, foram registradas 440 mil licenças médicas, um aumento de 67% em relação a 2023. Entre os diagnósticos mais frequentes estão a ansiedade (141 mil casos), os episódios depressivos (113 mil) e a depressão recorrente (52 mil).
“O impacto financeiro é bilionário e afeta não apenas o governo, que precisa arcar com os benefícios, mas também as empresas, que sofrem com queda de produtividade, aumento de custos e desafios para gerenciar equipes”, afirmou Parada durante o evento.
O especialista destacou que a escalada dos afastamentos está relacionada à intensificação do estresse no ambiente corporativo, somada à falta de programas estruturados de prevenção. Ele comparou os números a acidentes de trabalho, que somaram 742 mil casos em 2024. “Se a tendência continuar, em pouco tempo os afastamentos por questões de saúde mental podem se aproximar do volume de acidentes de trabalho registrados no país, o que acende um alerta para empresas e autoridades”, disse.
A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que passa a valer em maio de 2026, impõe novas responsabilidades às empresas. A regra prevê a criação de canais de denúncia que permitam reclamações anônimas, a formação de comitês de ética internos e a realização de treinamentos específicos voltados ao dia a dia dos colaboradores, além da promoção de campanhas e palestras permanentes. A norma também exige que a saúde mental passe a integrar práticas da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), conectando o tema à segurança do trabalho.
Parada explicou que a não conformidade com a nova regulamentação poderá resultar em multas e em aumento do passivo trabalhista. Para ele, as empresas precisam encarar a saúde mental não como gasto, mas como investimento. “Quando a saúde mental não é tratada, ela rapidamente se transforma em um problema físico, e o custo do tratamento físico é muito mais alto. Prevenir é mais econômico e sustentável para todos os envolvidos”, afirmou.
Ele também ressaltou que a norma exige que todas as denúncias sejam investigadas, com relatórios formais analisados pelo comitê de ética, que deve contar com representantes do RH, jurídico, compliance e diretoria. Essa estrutura, segundo ele, dará mais segurança jurídica às empresas em casos de processos.
Para Daniela Bauab, presidente do Comitê de Capital Humano & Educação da Britcham, que moderou o webinar ao lado de Gustavo Jorge, vice-presidente do grupo, a nova regulamentação representa uma oportunidade de mudança cultural nas organizações. “A saúde mental deixou de ser um tema restrito aos consultórios e se tornou fator estratégico para a sustentabilidade dos negócios”, disse.
A abertura do evento foi conduzida por Marcio Zanetti, presidente da Britcham em São Paulo, que destacou o compromisso da instituição em promover ambientes empresariais mais inclusivos e prósperos. O encontro integra o calendário oficial de eventos da Britcham, e todas as atividades promovidas pela entidade estão disponíveis aqui.
Sobre a Britcham
Há mais de 100 anos no Brasil, a Britcham atua como principal promotora das relações econômicas e comerciais entre Brasil e Reino Unido, fomentando o diálogo bilateral por meio de iniciativas estratégicas. Presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, a instituição mantém conexões diretas com entidades governamentais e privadas, organizando missões comerciais nacionais e internacionais, rodadas de negócios e projetos especiais para integração econômica.
Com 13 comitês temáticos que abrangem os principais setores da economia, como comércio exterior, agronegócios, finanças, tecnologia e sustentabilidade, a Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil facilita discussões setoriais, advocacy e a troca de conhecimento entre associados, executivos e autoridades. Além disso, a Britcham oferece uma agenda diversificada de eventos exclusivos, desde oportunidades de networking até debates sobre tendências globais, fortalecendo conexões qualificadas entre os dois mercados. Destaque ainda para o Clube de Negócios Britânicos no Brasil (GBBC) e o Grupo de Suporte aos Negócios, plataformas essenciais para impulsionar parcerias e investimentos bilaterais. Com uma rede que inclui desde multinacionais até PMEs, a Britcham proporciona agregação de valor institucional e comercial por meio de grupos setoriais, posicionamentos técnicos e acesso a informações privilegiadas, consolidando-se como referência em cooperação empresarial e inovação entre Brasil e Reino Unido.