Evento da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil reuniu executivos da Boyden para debater as transformações do modelo de trabalho e o novo papel da liderança
São Paulo, 18 de março de 2025 – O trabalho remoto ficou no retrovisor. O híbrido também não é mais novidade. Agora, o desafio das empresas, mais do que definir onde as pessoas trabalham, é como elas executam essas tarefas. Essa foi a tônica do evento “Tendências no modelo de trabalho e o papel da liderança”, promovido nesta terça-feira (18) pela Britcham, que reuniu os especialistas David Turke e Amélia Caetano, da consultoria Boyden, para um debate sobre as mudanças estruturais do mundo do trabalho.
Se antes as discussões giravam em torno do embate entre trabalho remoto e presencial, o que se vê agora é a consolidação do modelo portátil, em que a flexibilidade se ajusta às necessidades do profissional e da empresa, e não o contrário. A lógica do controle rígido de horários e espaços foi definitivamente superada: “Trabalho não é um lugar para onde se vai, é um negócio que se faz”, resumiu Turke.
Trabalho por projeto e fim do microgerenciamento – outra transformação é a forma como a produtividade é medida. A contagem de horas sentadas em uma cadeira já não faz sentido. Em seu lugar, ganha força um modelo focado em entregas e projetos, o que demanda um novo tipo de gestão. “O grande erro foi migrar para o modelo remoto mantendo um mindset presencial”, destacou Amélia, explicando que muitas empresas replicaram a estrutura hierárquica tradicional no ambiente digital, sem repensar sua cultura e processos.
Liderança 5.0: do chefe ao mentor – o modelo de comando e controle não tem mais espaço. No lugar dele, surge uma liderança que atua como mentora e facilitadora. O desafio, no entanto, não é só tecnológico, mas comportamental. “Estamos na Indústria 5.0, mas o homo sapiens ainda é 1.0”, pontuou Amélia, ressaltando que muitas empresas já têm ferramentas digitais avançadas, mas ainda operam com práticas da era industrial.
A executiva ainda ressaltou que a nova liderança precisa garantir segurança psicológica, incentivar a autonomia e criar um ambiente de colaboração real. “Isso passa, inclusive, por abandonar a mentalidade de tempo integral e abraçar um modelo assíncrono, onde as pessoas possam trabalhar e responder mensagens quando for possível, sem a pressão de estar sempre online.”
Infraestrutura flexível e o papel do escritório – a discussão foi além do home office e trouxe uma provocação sobre o real papel dos escritórios. Se antes eram o centro da produtividade, hoje assumem uma nova função: o escritório não é mais um local de execução, mas de socialização e troca. Empresas que ignoram esse fato correm o risco de criar espaços vazios e sem propósito, afastando ainda mais os profissionais. “O erro das empresas foi achar que as pessoas voltariam ao escritório para fazer o que já fazem melhor em casa. O modelo híbrido precisa ser um diferencial, e não um retrocesso”, reforçou Turke.
Trabalho com propósito (mas sem misturar os propósitos) – se por muito tempo as empresas tentaram alinhar o propósito corporativo com o individual, hoje fica claro que cada profissional tem sua própria trajetória. O segredo não está em fundir os dois, mas sim aliá-los de forma estratégica. “O propósito da empresa não é o mesmo do funcionário. Mas ele pode ser o meio para que o profissional realize o seu próprio propósito”, destacou Amélia.
O futuro não é um destino, é um processo – o evento da Britcham deixou evidente que o futuro do trabalho não tem uma única resposta – e nem precisa ter. As mudanças seguem em curso, e as empresas que tentam congelar um modelo definitivo correm o risco de ficar para trás. O que se desenha não é um “novo normal”, mas um “normal em constante evolução”, no qual adaptação, autonomia e flexibilidade são as verdadeiras palavras-chave.