A economia brasileira deve ter crescimento entre 2% e 2,5% até 2035 e não terá grandes saltos do PIB no período. A estimativa é de Marcelo Toledo, economista-chefe do Bradesco Asset Management, em encontro promovido pela Britcham Paraná (seção paranaense da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil) e pelo Comitê de Economia & Finanças da entidade. A íntegra do webinar está disponível aqui.
Marcelo Toledo não acredita que o Brasil vá “decolar” no período, como aconteceu recentemente com a China e a Índia, embora esteja otimista em relação à continuidade do crescimento do agronegócio e aos impactos positivos da reforma tributária. Ele lembra que a mudança nos tributos tomará tempo até ser implantada em sua totalidade, mas aposta que seus efeitos serão benéficos na transição para um futuro melhor para o país.
O mercado de capitais é outra fonte de otimismo para Toledo: “Tivemos uma revolução importante nesse setor. A oferta de alternativas para investimento disparou nesse mercado, em segmentos como ações, crédito e imobiliário, e o número de investidores aumentou em proporções geométricas”.
No entanto, persistem obstáculos à retomada do crescimento, segundo ele, “a História nos mostra que o Brasil se move por reformas, mas em ritmo lento. Esse cenário deve prevalecer também na próxima década. Importante lembrar que temos dificuldades para resolver problemas que se arrastam há anos, como a questão fiscal, o nível da Educação e da Saúde e o baixo nível de investimento”.
Como exemplo, ele lembra que o consumo das famílias aumentou 10% em termos reais nos últimos dez anos, enquanto o investimento recuou 15%.
De olho nesse cenário, as previsões do Bradesco Asset Management são de que o PIB crescerá 1,7% este ano e 1,2% em 2026, depois de 3,4% em 2024 (estimativa). Para a inflação medida pelo IPCA, a estimativa é de que a alta será de 5,9% este ano e de 4,7% em 2026, em comparação à previsão de 4,7% em 2024. Já a taxa básica de juros Selic deverá encerrar 2025 a 15% ao ano e a 14% no próximo ano. A entidade considera que o câmbio deverá ficar mais estável, fechando 2025 com o dólar a R$ 6,10 e a R$ 6,20 no próximo ano.
Na avaliação de Marcelo Toledo e sua equipe, haverá dificuldades principalmente no déficit em conta corrente, que deve encerrar este ano a -2,4% do PIB e a -1,8% em 2026, enquanto a dívida bruta deve aumentar para 82,9% do PIB em dezembro e a 85,4% em 2026.
O alívio, embora parcial, pode vir em consequência das novas regras para os gastos do governo e de uma possível parada na elevação dos juros. O economista-chefe do Bradesco Asset Management ressalta que o arcabouço fiscal estabelece limites e que o governo não deverá ultrapassar esse teto em 2025.
Para os juros, ele acredita que o Copom decidirá por novo aumento da Selic na próxima reunião, em março, mas que depois disso haverá uma pausa. “O ciclo de ajuste da Selic deverá estar encerrado depois de um provável novo aumento na reunião de março. Depois disso, o Banco Central deve passar por uma fase de observação em relação ao comportamento da economia depois das seguidas elevações dos juros nos últimos meses. Como se sabe, a política monetária demora alguns meses para fazer efeito”.
No cenário externo, o economista enxerga incertezas causadas principalmente pelas iniciativas de Donald Trump. Mas Marcelo Toledo acredita que, por exemplo, as tarifas até agora anunciadas para importação, pelos EUA, de produtos brasileiros terão impacto limitado para as exportações do país. Ele alerta que a inflação continua a preocupar nos Estados Unidos, o que deve inibir novas elevações da taxa de juros. No entanto, o economista-chefe diz que o cenário externo não será elemento essencial para o Brasil este ano: “É evidente que o que acontece no exterior tem efeitos aqui, mas a dinâmica da economia brasileira é muito mais local”.