Painel mostrou que aumento da complexidade regulatória, mudanças no perfil de consumo e exigências climáticas impõem revisão urgente nas estratégias de seguros e financiamento para projetos de energia no Brasil
Rio de Janeiro, 21 de maio de 2025 – A Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham) promoveu o encontro Transição Energética 2025: um olhar em relação aos riscos, com a participação de Paulo Mantovani, Head Técnico de Natural Resources da WTW, e Leonardo Miranda, presidente do Comitê de Energia da Britcham. O evento reuniu representantes do setor de seguros, infraestrutura e investimentos para debater os impactos da transição energética sobre o apetite de risco e os desafios para viabilizar projetos de geração no país.
Novos fatores pesam na análise de riscos – durante o painel, Mantovani destacou que os modelos tradicionais de seguros para projetos de energia já não acompanham a velocidade das transformações atuais. “Hoje, se você não tiver um transformador reserva, o mercado vai considerar isso uma falha grave de planejamento. A exigência de capacidade técnica e preventiva aumentou”, afirmou. Ele também alertou que projetos considerados seguros há poucos anos — como termoelétricas — enfrentam atualmente resistência de mercados internacionais por pressão dos financiadores, especialmente em Londres e Nova Iorque.
Crescimento dos data centers e o desafio da oferta energética – Leonardo Miranda trouxe à discussão os novos grandes consumidores de energia, como os data centers. “Estamos assistindo a uma mudança radical no perfil de consumo, puxada pela digitalização. Os data centers, com demandas massivas e urgência de conexão, já impactam o sistema elétrico e pressionam por revisões no marco regulatório”, apontou. Ele lembrou que o Brasil ainda enfrenta entraves de planejamento e conexão de grandes consumidores à rede, o que pode comprometer investimentos nos próximos anos.
O encontro também trouxe a perspectiva de Tatiana Cusnir, diretora de Private Equity and M&A da WTW, sobre os riscos envolvidos na aquisição de ativos energéticos. “Cada projeto precisa de um mapeamento rigoroso desde o início, avaliando riscos cobertos e descobertos para viabilizar uma taxa de retorno adequada ao investidor”, explicou. Ela defendeu o uso de instrumentos como as apólices W&I (Warranty & Indemnity), que dão segurança jurídica e podem até ser fator decisivo em disputas por ativos estratégicos.
Soluções customizadas e necessidade de atuação consultiva – além da estruturação de seguros sob medida, o painel abordou a importância da atuação consultiva junto a fundos e investidores. “Não se trata apenas de intermediar seguros, mas de oferecer inteligência de risco. Uma colocação bem estruturada, desde o greenfield até o início da operação, pode reduzir custos e atrair mais capital”, completou Mantovani. Ele citou que a diversificação geográfica da colocação de risco, que envolve praças como Londres, Miami, Alemanha e outras, é hoje uma prática necessária para montar apólices robustas.
A mensagem final apontou que não há transição energética sem gestão de risco à altura. Para os especialistas, o Brasil está bem-posicionado em termos de matriz energética, mas precisará superar gargalos regulatórios e adotar uma abordagem mais técnica e integrada no financiamento de projetos, sob pena de ver oportunidades estratégicas escaparem para mercados mais ágeis.