Professora Carolina Naveira-Cotta, líder do protótipo, afirma que muitos brasileiros poderiam se beneficiar da iniciativa
A Britcham (Câmara Britânica de Comércio e Indústria) organizou uma comitiva (coordenada por Carlos Peixoto, Presidente do Comitê de Óleo e Gás e liderada por Nicholas Burridge, Presidente da Regional Rio de Janeiro) para visitar a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde está sendo desenvolvido um projeto de uma ilha de policogeração sustentável capaz de gerar simultaneamente eletricidade, água destilada e biodiesel, financiado pela Petrogal Brasil via ANP e EMBRAPII. Quem coordena o projeto é a Professora Carolina Naveira-Cotta, do Programa de Engenharia Mecânica da COPPE/UFRJ.
O sistema tem como ponto de partida o uso de energia solar com a recuperação de calor. ‘’Temos possibilidade de gerar simultaneamente vários produtos de forma descentralizada. Começamos com eletricidade e água, mas esperamos, até o final do ano, gerar incorporar a produção de biodiesel junto com tudo ao demonstrador’’, afirma Carolina.
E como esse processo funciona? A ideia é o reaproveitamento do calor na geração de eletricidade. ‘’Temos um painel solar que gera eletricidade e nesse processo joga-se fora muito calor no ambiente. Esse calor é recuperado para a destilação de água. Por isso, permite gerar eletricidade simultaneamente à água destilada. Essa água é potável, pode ser usada para consumo humano ou ter algum uso industrial”, explica.
Para a produção de biodiesel, parte-se do mesmo procedimento: “Ao aumentar a temperatura da reação, aprimora-se o processo de produção de biodiesel. Para a geração desse elemento especificamente, criamos microrreatores, por onde passamos água quente, que aumenta a temperatura da reação e intensifica o processo de produção do biodiesel”, complementa a profissional.
Há outras propostas, como geração de frio. “Em lugares remotos, por exemplo, podemos aproveitar o calor que está sendo rejeitado para produzir ambientes refrigerados”, explica Carolina. “Dessa forma,, pode-se conservar alimentos e vacinas, por exemplo”, ressalta. A visita de empresas associadas à Câmara Britânica e do governo do Reino Unido à UFRJ se deu a partir dos cenários de transição energética e desenvolvimento sustentável apresentados pelo projeto, sendo pautas prioritárias na relação Brasil-Reino Unido.
“Esse projeto pode ser aplicado em qualquer lugar remoto ou inóspito. Então, podemos pensar em uma ilha, uma plataforma, um navio, no semiárido do Nordeste, para atender comunidades que dependam de energia e também de água”, revela Carolina, completando com o exemplo de uma ilha também off-grid (ou seja, não conectada à rede). “Não tem cabo chegando lá [na ilha], em vez de queimar diesel no gerador, coloca um painel, gera eletricidade e transforma água do mar em água potável”, comenta.
Quanto aos custos de implantação do projeto em larga escala, tudo depende do cenário: “Onde será o local? Terá eletricidade? Quem vai operar?”, pergunta Cotta. “Para uma implementação em maior escala, o protótipo montado na UFRJ seria simplificado, e portanto mais barato, pois o atual é muito instrumentado e tem vários sensores digitais, já que além de ser um demonstrador tecnológico, tem a importante função de contribuir na formação de alunos. Temos trabalhos acadêmicos, entre teses de doutorado, dissertações de mestrado e projetos de fim de curso, acontecendo nesse protótipo’’, diz a professora.
A ilha de policogeração sustentável ocupa uma área de 200m², onde foram instalados um painel fotovoltaico de alta concentração, com capacidade de gerar cinco quilowatts de energia elétrica e oito quilowatts de energia térmica, recuperáveis, além de três conjuntos de coletores solares para aquecimento de água. A ilha é flexível e pode ser modificada para uso em outros locais e adaptada para cogeração de outros insumos, dependendo do objetivo e uso.
O próximo passo no desenvolvimento desse projeto é sair do atual TRL6 (demonstração em ambiente relevante) para um TRL8 (demonstração em ambiente operacional). “Acredito que em um horizonte de 12 a 24 meses poderíamos uma réplica desse protótipo montado e funcionando num cenário operacional, mas tudo depende do investimento”, diz a professora. “Esse projeto é revolucionário e pode transformar a vida de muitas pessoas no Brasil, principalmente no semiárido do Nordeste”, finaliza.
Fonte: Assessoria de Imprensa – Britcham