Debate na sede da Câmara Britânica contou com as expertises de Marcio Zanetti, country leader da Economist Impact no Brasil, e Mário Braga, analista sênior para o Brasil da Control Risks
A poucos dias das eleições, o cenário social e econômico fervilha no País. Assim, a Britcham, Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil, reuniu, em São Paulo, dois grandes nomes no âmbito da análise de riscos: Marcio Zanetti, country leader da Economist Impact no Brasil, e Mário Braga, analista sênior para o Brasil da Control Risks, para debater ameaças e possibilidades pré e pós-pleito com os associados e convidados, sob a moderação de Alan Lutfi, presidente do Comitê de Economia & Finanças da Britcham.
Maiores impactos na economia mundial
Zanetti abriu o painel com uma análise do cenário externo e as implicações da Guerra na Ucrânia. Para ele, a disparada das commodities, a quebra na cadeia de suprimentos e a consequente alta da inflação impactaram mercados em todo o mundo, que, provavelmente, sofrerá com essa conjuntura até meados de 2023. “No Brasil, o Banco Central teve de se adaptar, deixando a Selic mais agressiva”, disse. “Essa Guerra teve um custo muito alto até agora: o mundo perdeu cerca de US$ 3 trilhões”, completou.
Apesar de tudo, Zanetti pontuou que a empregabilidade nos Estados Unidos teve uma rápida retomada, mesmo em meio à recessão na Europa e a desaceleração na China. Em termos de riscos gerais globais, o executivo analisa que pode haver uma eventual escalada da tensão no Irã, uma potencial nova variante da Covid e conflitos locais na Europa devido à inflação cada vez mais alta na região. “Sem dúvida, com esse cenário todo, o grande perdedor da vez é o euro”, considerou. “No ano que vem, o panorama pode ser ainda pior, pois o inverno muito frio na Europa tenderá a gerar uma crise energética sem precedentes, por conta de a Rússia estar represando o fornecimento de gás”.
Consequências práticas das eleições no Brasil
Quanto ao Brasil, o especialista da Economist Impact analisou que o ex-presidente Lula vencerá as eleições. “Ele deve adotar um tom mais pragmático, migrando suas políticas para o centro, priorizando uma reforma fiscal e visando melhor distribuição de renda”. Zanetti também afirmou que Lula não deve respeitar o teto de gastos, será contra privatizações e investirá em Parcerias Público Privadas (PPPs) na infraestrutura.
Segundo Zanetti, uma eventual, mas improvável, vitória de Jair Bolsonaro, apresentaria um cenário em que seria necessário o atual presidente lutar para equacionar a política do fortalecimento do agronegócio e da mineração mediante protestos contra a degradação do meio ambiente, para “melhorar sua imagem”.
No segundo bloco do debate, Mário Braga, analista sênior para o Brasil da Control Risks, frisou que o presidente Jair Bolsonaro é um candidato competitivo, com sólido apoio de pelo menos um terço do eleitorado. Mas para o analista, fatores que consolidam a preferência entre seus apoiadores também resultam em altas taxas de rejeição, pois ‘’sua postura na pandemia foi duvidável. Ele também profere ataques contra o Supremo Tribunal Federal e contra a mídia, além de enfrentar um cenário econômico desafiador, com desemprego, insegurança alimentar e muita gente morando nas ruas”.
Braga acredita que Luis Inácio Lula da Silva vencerá as eleições, provavelmente no segundo turno, e que pode haver uma eventual contestação dos resultados por parte de Jair Bolsonaro, “que alegará fraude no sistema eletrônico de votação”. “Seus aliados também devem organizar protestos nas principais cidades do País e ter como principais alvos o judiciário, incluindo as sedes do STF e do TSE, mas não ativos do setor privado”, analisou.
De acordo com o analista sênior, é muito improvável que a dinâmica das pesquisas de intenção de voto mude significativamente até a eleição. “O apoio a Lula tem aumentado desde a última semana em meio a campanhas por voto útil”. Ele também avaliou que será pouco possível que estratégias de campanha consigam reduzir os índices de rejeição à Bolsonaro, que atualmente encontram-se em 53%.
Riscos da polarização e radicalização políticas
Apesar da polarização política, o especialista da Control Risks explicou que “as manifestações devem seguir sendo majoritariamente pacíficas e não devem escalar para violência generalizada”. “Riscos de segurança relativos a manifestações serão limitados a áreas onde protestos normalmente ocorrem”, completou.
Para ele, a radicalização de uma parcela pequena do eleitorado deve seguir resultando em episódios isolados de violência política, que trazem riscos indiretos de segurança. Braga também acredita que indivíduos radicalizados ou pequenos grupos devem realizar ataques não sofisticados e de pequena escala. “Riscos de violência política devem persistir pelo menos até a posse do próximo governo, em janeiro de 2023. Porém, forças de segurança devem ser capazes de evitar que um incidente similar ao do Capitólio, nos Estados Unidos, ocorra em Brasília”, concluiu.
Fonte: Assessoria de Imprensa – Britcham