Em evento na Câmara Britânica, Mansueto Almeida (BTG) e Rodolfo Margato (XP) analisam a conjuntura econômica do País com o início das movimentações no novo governo Lula

Especialistas do mercado financeiro estiveram em mesa redonda comandada por Alan Lutfi, presidente do Comitê de Economia e Finanças da Britcham

Os economistas Mansueto Almeida (BTG) e Rodolfo Margato (XP) analisaram a conjuntura econômica do Brasil para 2023, apontando desafios e oportunidades, em evento na sede da Britcham, em São Paulo, nesta quinta-feira (15/12).

Atual economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto participou da construção das diretrizes fiscais do País entre os anos de 2018 e 2020 (governos Temer e Bolsonaro), período no qual foi secretário do Tesouro Nacional.

Almeida iniciou suas análises afirmando que o novo governo ainda não tem uma âncora fiscal clara, o que deixa muitas dúvidas no ar. “Ao mesmo tempo, temos um cenário internacional que não é muito ruim, pois a China está em reabertura econômica e prevejo dois anos de crescimento de commodities”, completou.

O economista também lembrou que recentes conquistas como a Reforma da Previdência, a Independência do Banco Central, a Reforma Trabalhista e as mudanças em normas de Parcerias Público Privadas e concessões são pontos positivos para amenizar o cenário que se aproxima. “O novo governo Lula também promete ter mais atenção com a questão ambiental, o que pode atrair mais investidores estrangeiros”.

Ao mesmo tempo, o economista ressaltou que Lula tem afirmado que não irá respeitar o teto de gastos e que R$ 200 bilhões serão gastos para cobrir programas sociais que o novo presidente pretende privilegiar. “Como isso será pago?”, questionou Mansueto. “Teremos uma crescente do déficit público e para que este gasto seja coberto, talvez teremos um aumento da carga tributária, o que obviamente, ninguém deseja’’. O economista-chefe do BTG Pactual pontuou que a elevação de impostos em 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em um País onde a carga de impostos já é de 34%, vai “machucar as empresas”.

Ele ainda explicou como tudo isso afeta a cotação do dólar: “Se tivéssemos um ambiente de menos incertezas econômicas, o dólar estaria em R$ 4,80 e não em R$ 5,30″. De acordo com Mansueto, o cenário de incertezas em torno das regras fiscais deve manter a Selic (taxa básica de juros) em 13,75% ao ano por algum tempo, antes da mesma ser reduzida.

O ex-secretário do Tesouro estimou que o futuro governo deverá realizar um esforço fiscal – isto é, a diferença entre o déficit primário previsto para o ano que vem e o superávit fiscal necessário – de R$ 350 bilhões para conseguir estancar o crescimento da dívida pública até o fim do mandato. Mansueto considerou, no entanto, que é muito difícil isso acontecer, já que o governo eleito não dá sinais de que vai cortar despesas.

“Se não deixar claro qual será a estratégia fiscal para obter superávit suficiente e estancar o crescimento da dívida, a Selic pode ficar estável ou cair pouco. A curva de juros de 10 anos já sinaliza uma Selic de 13%. Na visão atual do mercado, é como se a Selic praticamente nunca fosse cair”, declarou o economista. “Se não houver condições para o juro longo cair, as empresas terão que cortar investimentos”, declarou.

Nas estratégias de políticas internacionais, Mansueto ainda lembrou que “países como a Inglaterra, que tem políticas sociais consistentes, devem ter as contas em dia”.

Já o vice-presidente de Pesquisa Econômica da XP Investimentos, Rodolfo Margato, ressaltou a resiliência que a economia brasileira apresentou após o choque da pandemia de Covid-19 e lembrou que apesar das projeções negativas, o PIB cresceu 0,4% no terceiro trimestre de 2022 e deve crescer ainda mais em 2023. “Tivemos a volta cíclica do setor de serviços e grandes reformas como a da previdência aprovadas, além da conquista da autonomia do Banco Central”. O economista da XP ressaltou que a taxa de desemprego está abaixo do esperado, mantendo-se em cerca de 8%, o que alivia a pressão no mercado.

Margato também lembrou que o Brasil está bem-posicionado quanto ao preço das commodities e que a reabertura da China em 2023 deve fortalecer ainda mais a parceria comercial com o País.

Fonte: Assessoria de Imprensa – Britcham