Ana Paula Vitelli reconhece desafios frente a entidade centenária, admite nova postura após sua entrada e destaca a importância de lideranças femininas no mercado de trabalho
Era início de 2020 quando a executiva de empresas, professora de Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional no Global MBA da Alliance da Manchester Business School e doutora pela FGV – EAESP, Ana Paula Vitelli, teve seu nome sondado para assumir a presidência da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham). O convite, que partiu de um comitê de nomeações composto por ex-presidentes da Câmara e representantes do governo britânico (Embaixador, Cônsules e líderes de comércio), veio com muita expectativa, não só pela importância de presidir a entidade britânica centenária, mas também pelo desafio por ser a primeira mulher à frente da Britcham. Ana Paula aceitou o convite com entusiasmo: “Estava bastante envolvida com a Câmara, um relacionamento que já vinha de 7 anos, por outras atividades, como a presidência do Comitê de Capital Humano, então já tinha um bom trânsito por aqui”, recorda.
Além disso, o início da gestão em abril de 2020 marcava, também, o início da pandemia do novo coronavírus e, sem muita informação do que de fato se tratava, havia uma forte preocupação em manter as atividades associativas em pleno funcionamento. “Tinha essa questão de não saber o que aconteceria naquele momento. E então, sendo a primeira mulher dentro de uma instituição absolutamente tradicional, era um desafio adicional. Eu me inseri em um espaço de maior visibilidade e ao mesmo tempo precisava fazer as coisas funcionarem”, menciona. Ela acrescenta que foi muito bem recebida pelo Conselho de Administração, recebendo muito apoio desde o início.
Ana Paula destaca o cenário em que, em geral, grandes empresas são comandadas por homens, muitas delas em setores tradicionalmente masculinos. “Se essas eram algumas das empresas que trafegavam na Câmara, inclusive no Conselho, era mais rara a presença feminina. Com a minha chegada procurei trazer mulheres para o Conselho e gerar um pouco mais de diversidade. Então, acabou sendo um feliz momento de unir essas diferentes frentes”.
Desafios
Nos últimos dois anos, a Câmara conquistou novos associados, passou a realizar novas atividades e contou com mais eventos. Um trabalho que passou a ser mais efetivo especialmente com uma maior proximidade do governo britânico no Brasil, resultando em uma troca de relacionamentos, em especial junto à Embaixada e ao Consulado Britânico em São Paulo. “Tinha uma estratégia sendo delineada e a Britcham precisava de ajuda, efetivamente, para se reposicionar, tornar-se mais relevante”, conta. Nessa proximidade com a Embaixada e o Consulado, o trabalho que era feito por eles junto às empresas poderia ser absorvido pela Britcham, e assim, trazer mais associados para a Câmara. “Foi um movimento muito forte, com muito apoio do governo britânico e que deu mais visibilidade à Britcham”, reforça Ana Paula.
Liderança feminina e o desafio de ocupar novos espaços
Para Ana Paula Vitelli, as mudanças que começaram a dar certo na Câmara certamente vieram mais pela novidade de ações e novos projetos do que pelo fato de ser mulher. “Estávamos diante de um contexto adverso e precisávamos dar uma guinada, algo que fosse abraçado por todos os lados. Eu sempre estive muito próxima das atividades, me envolvendo muito com as questões do dia a dia e houve um trabalho de relacionamento com outros líderes na Câmara que foi importante. Isso de trazer as pessoas para perto é algo que acho muito importante”.
Logo no início dos trabalhos, Ana Paula e toda a equipe da Britcham criaram essa proximidade, do espaço de trabalho em conjunto, uma construção que vem ao longo dos últimos dois anos e com ótimos resultados. Hoje, a Câmara Britânica conta com mais comitês, teve a mobilização de novidades e atividades, webinars, reuniões setoriais positivas, além da agenda de advocacy. “Quando você começa a criar uma onda positiva, todo mundo começa a comprar essa ideia e o engajamento e motivação crescem substancialmente”, afirma.
Em 2021, quando foi implementada a atividade de relações governamentais, que na avaliação da dirigente foi o que realmente expandiu as atividades da Câmara com maior valor agregado aos associados, os trabalhos ganharam ainda mais força. “E o Conselho acompanhando isso que podemos chamar de uma virada de jogo, fez com que tudo fosse visto com bons olhos e tivesse um enorme apoio”, comemora.
Mulher na liderança
Em 2012, a presidente da Britcham concluiu seu doutorado, na FGV-EAESP, com uma pesquisa sobre mulheres como gestoras no Brasil, tese que foi premiada como melhor pesquisa de pós-graduação daquele ano na FGV. Especialista no tema, Ana Paula Vitelli entende que a mulher, ao longo do tempo, não esteve tão exposta a determinadas experiências a que os homens se expuseram com mais facilidade.
Conforme Vitelli, é comum não ver a mulher ocupando altos cargos, não por falta de competências, mas porque não faz parte do universo do pensar de forma orgânica. “No momento em que você começa a sensibilizar as pessoas para esse tema, são abertas mais oportunidades para as mulheres”. Na visão dela, ainda será preciso algumas décadas para que esse processo seja mais natural. “Estruturalmente, ao longo do tempo, as mulheres não estiveram ocupando espaços que os homens já ocupavam”, sintetiza. Para a presidente da Britcham, estar em um cargo de tamanha grandeza acaba por dar mais visibilidade para outras mulheres e auxiliar em toda essa trajetória.
Estudos
Vitelli aponta que a mulher é muito mais exigente consigo mesma e se cobra muito mais. Nesse sentido, ela destaca estudos que mostram que as mulheres, quando vão aplicar para algum tipo de trabalho que tenha, por exemplo, cinco itens de exigência, avaliam se preenchem exatamente os cinco pontos, caso contrário, não se candidatam. “O homem, não, se preencher dois ou três, acaba tentando. Acho que o homem tem, normalmente, e de novo – por condições históricas mais amplas – um espaço de se atirar mais, até porque entende-se que o homem precisa ser aquele que está lá no mercado de trabalho. A mulher adentrou o mercado de trabalho mais fortemente somente depois da década de 1970 e assim, ocupou esses espaços mais tardiamente”, avalia.
Mais dois anos
Ana Paula se orgulha imensamente do trabalho realizado nos últimos dois anos na Britcham, especialmente porque acredita que todo mundo que se envolve com a Câmara o faz com o coração acima de tudo. “Sinto muito orgulho por poder ter participado dessa virada da Britcham. E sendo a primeira mulher, tem alguns marcos. Hoje vejo essa trajetória e esse espaço de conquista profissional e pessoal de muito valor e satisfação. Da mesma forma que me dediquei nesses últimos dois anos, quero continuar colaborando, dar continuidade ao trabalho e, eventualmente, dar alguns passos a mais antes de a gente partir para uma nova gestão”, projeta.
Ana ainda destacou que, para consolidar e amadurecer o processo de governança da Britcham, tudo só funcionou com muita sinergia entre equipe, associados, governo britânico, com novas formas decisórias e novos comitês. “Dar continuidade por mais dois anos seria muito interessante e um trabalho do qual eu continuaria tendo muito orgulho de liderar. Todos têm muita paixão pelo que fazem e acho que acabei contagiando a todos também”, finaliza.
Fonte: Assessoria de Imprensa – Britcham