O Fiagro, Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, apresenta cenários distintos e convergentes. Ao mesmo tempo em que atingiu a marca de R$ 38 bilhões em patrimônio, o que representa um aumento de 106% na comparação anual, enfrenta instabilidade: 11 dos 27 produtos listados na B3 tiveram rentabilidade negativa da cota no mês de março, de acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
“Existe um gap entre o agronegócio e o mercado de capitais, 25% do PIB está ligado diretamente ao agronegócio, e o mercado de capitais está distante desta proporção. Precisamos avançar em mais produtos e alternativas. Afinal, o agronegócio gera renda. O mercado de capitais pode se tornar uma grande alavanca da distribuição desta riqueza a investidores. Reconhecemos que, em relação a produtos agro, a CVM precisa correr para acompanhar estruturalmente o nível de profundidade e liquidez de outros fundos, como o Fundo Imobiliário”, declara Daniel Maeda, diretor da CVM.
O especialista demonstra otimismo em relação ao futuro da relação entre o mercado de capitais e o agronegócio, setores que considera fundamentais no processo brasileiro de transição energética. “O agronegócio pode exercer um papel relevantíssimo e crucial para o ESG, com agendas verdes e sustentáveis. O mercado de capitais pode ser um grande instrumento para mostrar para investidores que o agro pode e é limpo, e ecologicamente sustentável. Estamos diante de uma grande oportunidade de mostrar o agronegócio brasileiro e como ele vai em linha com a prática sustentável de negócio”, diz.
Thiago Rocha, presidente da Câmara de Modernização do Crédito do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), ressalta que é preciso trabalhar em busca de soluções para contornar adversidades burocráticas presentes no cenário nacional. “Existe um mar de oportunidades, há mecanismos que podem melhorar a governança e qualificar um público cada vez maior, e tentar simplificar e esclarecer a visão do investidor. Acre, Pará e o norte do estado de Mato Grosso têm muitas oportunidades para sair dos instrumentos tradicionais de crédito para melhorar a eficiência na propriedade, implementando tecnologias que dependem de recursos”, afirma.
A discussão ocorreu sob a moderação de Jéssica de Alencar Araripe, advogada sênior de banking e finance de Machado Meyer Advogados, sob a organização dos comitês de Agronegócios e de Economia & Finanças. O evento faz parte da agenda anual da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham), que proporciona debates e contato direto entre associados da instituição e representantes do poder público e executivos de empresas, com foco em negócios que envolvem Brasil e Reino Unido.