Descarbonização da economia reúne multinacionais e representantes do Brasil e Reino Unido

Redução de emissão de carbono, crescimento de energias renováveis, regulamentação e financiamento pautaram evento

Representantes de empresas e instituições brasileiras e britânicas se reuniram nesta quarta-feira (18) para debater a descarbonização na economia. O 19º Seminário Internacional de Energia foi realizado pela Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham).

Crédito: Britcham Divulgação / Daniel Lewinsohn

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O evento ocorreu na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Luiz Césio Caetano, vice-presidente da instituição, descreveu o evento como uma oportunidade de contribuir para a construção consciente de um futuro energético e de ouvir “líderes visionários”.

“O Brasil, um hub energético global, tem recebido muitos investimentos estrangeiros. A Firjan está comprometida em liderar a transição energética, e trabalhar de mãos dadas com a Britcham e com o Reino Unido para ajudar a termos um futuro próspero para todos”, afirmou Luiz Césio Caetano.

O cônsul-geral do Reino Unido no Rio de Janeiro, Anjoum Noorani, destacou a importância do hidrogênio brasileiro.

“Energia é um tema super importante para o governo britânico. A transição energética é fundamental para chegarmos a nossas metas climáticas. O Brasil é super importante no mundo no segmento da energia”.

“O hidrogênio brasileiro pode ser uma das soluções para a segurança energética.”

O enviado especial do governo britânico também compartilhou a expectativa sobre o posicionamento brasileiro na COP30.

“A possibilidade de usar o vento brasileiro para ajudar o mundo é um desafio importante que a gente quer fazer parte. A gente espera que, durante a COP30, o Brasil foque em biocombustíveis, captura de carbono e na bioinovação”, concluiu Anjoum Noorani.

Como reduzir emissões de carbono?

As soluções para reduzir a intensidade de carbono foram discutidas em painel com moderação de Clarisse Rocha, vice-presidente da Britcham Rio de Janeiro. A análise do tema contou com a participação de Pablo Tejera Cuesta, diretor geral de Producing NOV Assets da Shell no Brasil.

O executivo detalhou que os principais objetivos da empresa britânica se concentram em responder às necessidades energéticas da sociedade com a atuação responsável nos âmbitos econômico, ambiental e social. Pablo Tejera Cuesta pontuou a importância do Poder Legislativo brasileiro neste cenário.

“Acho que o papel de organizações e políticas é fundamental para promover a descarbonização da indústria. É importante a criação de regulamentação. Isso vai nos ajudar a tomar decisões importantes sobre investimentos em energia renovável.”

Karine Fragoso, gerente de petróleo, gás e naval da Firjan, ressaltou o que considera ser fundamental no que diz respeito à regulamentação.

“O preço de etiquetas, sozinho, não traduz as nossas aspirações. Precisamos entender as diferenças entre segurança regulatória e regulamentação. Precisamos ter uma regulamentação que traga segurança ao investidor e que esteja alinhada, atualizada, com o cenário em que o investidor está inserido.”

Adriano Truffi Lima, gerente geral de Sustentabilidade e QSMS da Vast Infraestrutura, descreveu o que é feito pela empresa para a descarbonização. A companhia é responsável por 35% das exportações de petróleo do Brasil e criou uma estratégia de sustentabilidade em 2020.

“Neste ano de 2023, implantamos o projeto de descarbonização, que segue o acordo de Paris. Hoje, com sistema de balanço de fatores, conseguimos evitar emissões durante 90% do tempo das operações. O nosso foco é olhar onde estamos inseridos para identificar e entender quais são as oportunidades de contribuir para reduzir as emissões”, explicou Adriano Lima.

Papel e crescimento de energias renováveis

O avanço da transição de energias fósseis para renováveis está ligada à conscientização, tecnologias e regulamentação.

Estes foram os pontos centrais da discussão moderada por  Monique Gonçalves, gerente sênior de Relações Corporativas e Assuntos Regulatórios da Shell Brasil e vice-presidente do Comitê de Energia da Britcham.

O professor Paulo Emílio Miranda, presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2), apresentou o hidrogênio como alternativa para o crescimento da energia renovável.

“Em 2005, existia a perspectiva de que o hidrogênio viria representar um processo importante. Hoje, entendemos que isso é inexorável. Não há mais dúvida se o hidrogênio representará um papel importante no sistema energético mundial. Talvez, a principal delas seria a motivação ambiental. Nós precisamos descarbonizar os nossos ambientes. E os nossos mecanismos são eficientes para a descarbonização. Também é uma ferramenta para a nova indústria do século XXI, com a neo descarbonização.”

O presidente da ABH2 também fez questão de esclarecer que a associação é crítica quanto ao uso de cores para classificar o hidrogênio. “O que nos interessa é a descarbonização. As cores são inespecíficas. Nós precisamos determinar e quantificar quanto CO2 são emitidos na produção de hidrogênio”, conclui.

A utilização de biocombustíveis também está no radar do mercado de Energia. Gabriel Kropsch, vice-presidente da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás), defendeu que o biometano e o biogás tenham mais espaço no setor para que haja uma transição energética mais rápida.

“O maior desafio está no setor de transporte, por conta do óleo diesel. Quase 100% do transporte é baseado no óleo diesel”, alertou Gabriel Kropsch. Na comparação, o biogás pode chegar a reduzir a emissão de gases poluentes em até 36%.

Para um maior interesse do mercado pelo biogás, por exemplo, o presidente da ABiogás acredita que a regulamentação pode ser um propulsor para o setor.

“Não existe um mercado regulado de carbono. Através de mecanismos de mercado, isso vai precificar a redução de emissão”, sinalizou Gabriel Kropsch.

A conscientização da população em benefício da transição energética também é uma preocupação de empresas e investidores do ramo energético.

A questão foi levantada por Ricardo Carvalho, diretor comercial e de originação da BP Bunge.

“Tem que ter a racionalidade no preço, principalmente no mercado de massa. Do ano passado pra cá, como houve uma desoneração no preço da gasolina, houve uma mudança para pior no comportamento do consumidor. A paridade entre gasolina e etanol veio para 55%. Só assim que o consumidor brasileiro passou a optar mais pelo combustível.”

Projetos integrados, inovação e regulamentação

A integração de projetos de engenharia ambiental com os departamentos de finanças e produção são essenciais para tirar do papel projetos de transição energética.

Todos os processos que fazem parte da mudança de consumo de combustíveis fósseis para renováveis também dependem de inovação do setor de Energia e de regulamentação.

Estes três pilares nortearam o debate comandado por Fabio Caldas, vice-presidente nacional da Britcham, e que contou com a presença de Adriano Burger, diretor de desenvolvimento de negócios e integração da bp, Olivier Wambersie, gerente geral de tecnologia da Shell no Brasil, e Raphael Moura, superintendente de tecnologia e meio ambiente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O representante da instituição governamental deixou claro que a regulamentação depende de outra esfera, e que a ANP monitora de perto a situação no país.

“Embora não sejamos responsáveis pela regulamentação da atividade comercial, estamos acompanhando o portfólio das empresas e temos contato com as lideranças de pesquisas para entender como a ANP pode criar sinergias e externalidades positivas para que as atividades sejam implementadas e aceleradas no Brasil.”

A ANP revela uma tendência na transformação de portfólio de empresas: o aumento de investimento em processos de descarbonização.

“Desde 2021, a gente assistiu esse boom de estratégia de investir em transição energética. Nesta linha, há empresas reguladas com portfólio de 70% de investimento em pesquisas de transição”, conta Raphael Moura.

Olivier Wambersie, gerente geral de tecnologia da Shell no Brasil, descreveu como a empresa age em busca de novas maneiras de contribuir com a descarbonização.

“Nossa maneira de trabalhar é seguir a abordagem de open innovation. Fazemos tudo com parceiros exteriores, porque vamos replicar dentro da Shell o que já existe de excelência.”

O representante da Shell exemplificou ao citar a parceria com a Universidade de São Paulo.

“A USP, por exemplo, está entre as melhores universidades do mundo. Por isso, vamos utilizar e ampliar o centro de excelência da Shell com parcerias.”

A Shell investe USD 100 milhões por ano no Brasil em novas tecnologias. Olivier Wambersie explicou que é preciso avaliar como e onde investir este valor, porque precisamos de retorno, assim como todas as empresas.

“Nossas áreas de investimentos, o foco ainda é deep water. O Brasil é o centro da deep water. Por isso, queremos melhorar a eficiência do offshore. Na transição energética, o investimento é em baixo carbono. Devemos ampliar o foco na Amazônia e no etanol”.

Geração de energia renovável em escala, produção de biocombustíveis, bioenergia e captura de hidrogênio. Estas são as metas da bp em meio à transição energética global, segundo o executivo Adriano Burger.

“Nossa empresa tem um perfil agressivo na busca por integração de projetos e inovações do mercado, com alta diversificação da carteira de investimentos”, disse.

Responsável por desenvolver e integrar negócios no Brasil, Adriano Burger ressaltou a importância de como avançar de maneira sustentável com foco na transição de energia.

“É mais vantajoso agir em parceria do que criar competição na busca pela transição energética. O grande desafio é conseguir garantir o fornecimento da segurança energética com custo razoável e local. O objetivo da bp é conciliar estes fatores”, encerrou.

Financiamento da transição energética

O avanço da transição energética também depende de financiamento governamental. Para falar sobre o tema, o Seminário Internacional de Energia da Britcham convidou Fabio Accunzo, head do UK Export Finance (UKEF) no Brasil e no Cone Sul, e Roberta Montalvão, gerente de negócios corporate do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

A executiva do maior banco de desenvolvimento regional da América Latina citou que o objetivo do BNB é promover atividades econômicas que vão fortalecer o setor de Energia, como o financiamento de tecnologias importadas para substituição de fontes fósseis energéticas.

O Banco do Nordeste abrange empresas de todos os portes. “O desafio é conseguir atender toda a demanda que nos é apresentada. Além do fundo governamental, o BNB também recorre a fundos internacionais para ampliar os financiamentos de energias sustentáveis”, sintetizou Roberta Montalvão.

“A expectativa para 2024 é de R$ 38 bilhões para aplicação em projetos”

O representante do governo britânico, Fabio Accunzo, explicou como a UKEF atua no financiamento para projetos de transição energética.

“Nós apoiamos projetos do Brasil que tenham presença de pelo menos 20% de componente britânico.” Accunzo disse, ainda, quais são os fatores de risco analisados no processo de financiamento:

  • Crédito
  • Moeda local
  • Político
  • Corrupção
  • Reputação
  • Mercado
  • Envolvimento com questões de Direitos Humanos

“Não faltam recursos de investimentos no mundo para a transição energética. Nós fomentamos a exportação de fornecedores britânicos para o mundo, desde pesquisa de desenvolvimento até a elevação de competitividade na venda de produtos”, esclareceu Fabio Accunzo.

Tanto o head do UKEF quanto a gerente do BNB afirmaram que recebem solicitações de diversas categorias do setor de energia. Ambos recomendam que os responsáveis pelo projeto contratem um consultor financeiro para dar celeridade ao processo e consigam aumentar as chances de sucesso nas tratativas.

O presidente da Britcham Rio de Janeiro, Nicholas Burridge, encerrou o evento com uma análise sobre o que foi apresentado por líderes do setor de Energia.

“Vamos precisar de várias decisões para este dilema e depende de vários fatores particulares de cada país. Ao longo do dia, houve várias conversas e um ponto de destaque é que percebemos que temos mais espaço para colaboração do que competição neste mercado de Energia”, finalizou.

O recém-eleito presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Prado, realizou o discurso de encerramento do evento e apresentou perspectivas de investimento junto às pautas prioritárias da EPE para os próximos anos – leia aqui.

Fonte: Assessoria de Imprensa – Britcham