O Brasil apresenta oportunidades para investimentos em energia renovável e se destaca como um dos países com maior potencial de desenvolvimento no setor. O país foi o terceiro no mundo em aportes financeiros na área: em 2022, foram mais de US$ 25 bilhões, valor superado apenas por China e Estados Unidos.
Entretanto, analistas fazem ponderações em relação à necessidade de mapear e analisar os riscos para traçar metas e construir planejamentos. A Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham) realizou, por meio do comitê de Energia, nesta quinta-feira (27), um encontro com representantes de empresas que atuam neste mercado.
Christian Perlingiere, sócio da Control Risks, avalia que a morosidade no processo inicial de licenciamento de projetos de energia renovável tende a aumentar. “Com a maior demanda e maior foco da política do governo federal, além do foco generalizado em cima da transição energética pelo mundo, a demanda vai ser muito maior do que a oferta de mão de obra civil de servidores para analisarem esses projetos”, afirma.
De acordo com o executivo, a realização da COP30 no Brasil coloca mais tensão no país. A proximidade do evento “causa uma tensão muito maior do que, entre aspas, a normal, historicamente, em cima do país e, principalmente, em cima do desenvolvimento energético. Todas as conversas sobre a exploração de óleo e gás na bacia amazônica, tudo isso está tomando um vulto. Isso vai fazer com que a sensibilidade de qualquer projeto que esteja em fase de análise ou desenvolvimento sofra pressão da sociedade civil, de stakeholders governamentais e ambientais”, diz.
O especialista em mapeamento, análise e gerenciamento de riscos alerta ainda sobre a vulnerabilidade nas estruturas sistêmicas de empresas que atuam com transição energética e energia renovável no Brasil.
“Pensando em projetos de renovável, os sistemas integrados de tecnologia, os links que se têm operacionais, data centers, segurança da informação, isso tudo é muito crítico, de engenharia, de design. Isso é tudo vulnerável. Então, eu sei que algumas empresas têm sistemas bem robustos, outras nem tanto. Principalmente as que estão em fase mais inicial. Então, é um ponto a se levantar, eu diria que para qualquer nível de maturidade da empresa”, sinaliza Christian Perlingiere.
O representante da Control Risks defende que o ciclo de vida, fechamento e venda no setor de energia renovável têm semelhanças com outras indústrias de grande impacto. “Se eu penso em óleo e gás, mineração ou em alguns casos até em agro, e aqui, em energia renovável, o que você deixa, na verdade, vai ser o seu legado reputacional numa comunidade. Um projeto ruim dentro de um setor vai manchar o setor todo. Isso impacta na reputação de todos que atuam nele. É um ponto importante de se considerar, não só a nível de projeto, mas pensando também no quanto se quer que o setor tenha uma boa reputação para a população”, ressalta.
Na visão de Christian Perlingiere, a inovação tem que ser tratada como prioridade no setor de renováveis e a reputação positiva e dos investimentos são o cartão de visita. Todos esses são elementos fundamentais atrelados a questões regulatórias.
“Existe o jeito brasileiro de falar de regulamentação, lei e aprovações. Pensando em eólicas, combustível futuro e hidrogênio verde, a gente enxerga um pork-barreling clássico no nosso Congresso e no Senado. Houve um avanço interessante na discussão e análise, só que a discussão deve se estender a longo prazo”, avalia.
Outra preocupação presente no setor de renováveis é em relação ao ambiente de risco. Décio Pio Borges, sócio da Machado Meyer Advogados, relata o que gera riscos neste universo. “Pensando no investimento que vem de fora, sujeito a questões legais de responsabilidade, com compliance, integridade, e com os, em alguns casos, pensionistas, se for fundo de pensão, fundo soberano, fundo de Estado, essa é uma preocupação que tem sido bem prevalente”, conta.
O presidente do comitê de Energia da Britcham, Leonardo Miranda, destaca a reflexão sobre qual deve ser o limite aos incentivos ao setor. “Mesmo que se tenha um marco operatório, uma certa segurança, sempre tem questionamento. O biometano já tem uma regulação, claro, que foi evoluindo, porque era para se resumir a política pública, uma tentativa de incentivo. Agora, nós vemos os mercados investidores, o business crescendo, os investimentos aumentando, tendo players diversos”, contextualiza e conecta com as fontes de energias renováveis.
“Hoje, a gente fala de eólica, solar, super estabelecidas, aumentando o stakeholder na matriz energética. A discussão também é sobre até onde vão os incentivos. Seria o caso de ter incentivos agora, para poder lançar eólica offshore, que a gente sabe que o custo é maior, então, é um projeto mais custoso do que um offshore, um solar?”, reflete Leonardo Miranda.
A Britcham realiza eventos e discussões sobre os principais setores da indústria e do comércio entre Brasil e Reino Unido. O calendário com as atividades da Câmara está disponível aqui.